A sociedade urbana se distanciou de um elemento que faz parte de todos nós: os excrementos humanos. Desde a vida na cidade, eles são depositados em lugares “adequados” e pertencem à ordem do sujo, nojento, sem valor, o que deixa pouco espaço para falar sobre a experiência da excreção como fonte de prazer. Prazer pela percepção do movimento muscular; prazer pelo alívio; prazer pelo controle exercido sobre o próprio corpo; prazer pela “produção” pessoal.

Não nos referimos publicamente a fazer cocô. Falamos em “fazer o número 2”. Mas as crianças, principalmente as mais novas, nos lembram da humana e inerente necessidade fisiológica quando lança em alto e bom som um “quero fazer cocô!”; ou ainda: “meu cocô tá saindo!”.

Para deixar as fraldas e usar o penico ou vaso sanitário é imprescindível que a criança já tenha adquirido algumas competências neurofisiológicas e emocionais, as quais implicam um mínimo de autonomia. Além disso, é preciso que a criança e quem está à sua volta possam falar sobre fezes, urina e o que mais os envolve, como os genitais, puns, arrotos e cia.

Incluir no cotidiano das crianças e de seus adultos de referência livros que abordem estes temas é uma maneira de permitir de forma leve e lúdica a circulação e a familiarização do tema sem focar apenas no desfralde.

Os livros auxiliam na ampliação do repertório verbal e, de um jeito muito especial, servem como mediador das vivências da criança, na medida em que possibilitam o trânsito entre a fala e a escuta sobre as possíveis fantasias, temores e dúvidas que rondam o universo infantil.

Destaco a seguir alguns livros que abordam estes temas de um jeito bem divertido. Afinal, não podemos esquecer, como bem lembra Antônio Prata em seu texto Finitude cocô, que o cocô (e, por minha conta incluo, suas adjacências) é uma “ferramenta humorística”! Se não fosse, as crianças não se entreteriam com os palavrões.

Livro sobre o funcionamento do sistema digestivo e urinário

A incrível fábrica de cocô, xixi e pum, de Fátima Mesquita e Fábio Sgroi, Panda Books, explica sobre como cada um desses “produtos” são feitos dentro do nosso corpo.

Livros sobre os diferentes tipos de cocô

Investigar formas e tamanhos de cocôs faz parte da pesquisa infantil sobre a própria “obra” ou a “obra” alheia! Dos três títulos destacados a seguir, Cocô de dinossauro, de Diane e Christyan Fox, WMF Martins Fontes, é o único que não foca a retirada da fralda. O que tem dentro da sua fralda?, de Guido Van Genechten, Brinque-Book, e Cocô no trono, de Benoit Charlat, Companhia das Letrinhas, embora incluam o desfralde em sua narrativa, abordam a diversidade – e magia –  dos cocôs!

Livros sobre cocôs “voadores”

Quem nunca trombou com um cocô no meio do caminho ou foi vítima de algum que “despencou” sobre a cabeça? Dizem que de um jeito ou de outro, eles trazem sorte! Os livros aqui selecionados garantem, no mínimo, boas risadas.

Da pequena toupeira que queria saber quem tinha feito cocô na cabeça dela, escrito por Werner Holzwarth e ilustrado por Wolf Erlbruch, Companhia das Letrinhas, é o clássico dos clássicos dos livros sobre cocô! E é, sobretudo, encantador. Encanta porque, de toupeira, a toupeira não tem nada! Ele também poderia estar na “categoria” anterior, já que apresenta uma considerável amostra da pluralidade dos cocôs.

Com texto de Elizabeth Baguley e ilustrações de Mark Chambers, O pombo fez cocô, Editora Globo, conta como os moradores de uma cidade organizada e limpa – portanto, sem espaço para a “sujeira” – resolve o dilema do pombo que faz cocô nas cabeças de quem nela vive. Pincela, também, a temática do desfralde, mas sem rezar a cartilha do penico ou vaso sanitário para quem já cresceu.

Eva Furnari, com o humor e a profundidade que são sua marca, mostra em Cocô de Passarinho, Editora Moderna, como os dejetos de passarinhos podem mudar a vida de uma cidade. Bem sabemos que dependendo de onde vão parar os cocôs das crianças, a vida delas e dos adultos pode mudar consideravelmente, para uma ou outra direção.

Livros sobre pum

Os pequenos adoram o universo do “vento” que o próprio corpo produz. De tanto que gostam, livros sobre pum ganham não só as estantes das livrarias e bibliotecas, mas variadas versões com os mesmos personagens.

Laura, a curiosa menina de Ilan Brenman, é a protagonista em Até as princesas soltam pum, Pai, todos os animais soltam pum? e O livro secreto das princesas que soltam pum (ilustrados por Ionit Zilberman,  Brinque-Book).

O cachorro Pum, de Blandina Franco e José Carlos Lollo, Companhia das Letrinhas, vive situações que nos deixam em dúvida se realmente ele é um cão ou uma ventosidade anal. Suas peripécias podem ser conferidas em quatro histórias: Quem soltou o PUM?,  Soltei o PUM na escola!, Deixei o PUM escapar, O PUM e o Piripi do vizinho.

João do Pum, de Mario Prata (ilustração de Caco Galhardo, Companhia das Letrinhas, é reedição do Homem que soltava pum escrito nos anos 80. Texto longo, mas que prende a atenção do começo ao fim.

Com o mesmo humor contido nos livros acima citados está O pum, escrito por Stela Greco Loducca e ilustrado por Luciano Tasso, Companhia das Letrinhas. O pum que acontece com todos e que não tem como segurar!

Esta história cheia de barulhos suspeitos também está em Quem é o Pum?.

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Para finalizar as sugestões de produções divertidas que validam a curiosidade dos pequenos, deixo aqui o poema de Vinícius de Moraes cantado pelo Boca Livre.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=2A1vPVoGcrk[/youtube]

Sobre a Patrícia L. Paione Grinfeld.

Para mais reflexões e informações sobre desfralde, participe da roda de conversas desfralde sem atropelos ou agende uma consulta de orientação a pais.