Baby Boomer | formada por pessoas nascidas entre os anos 40 e início dos anos 60, têm como principais características a preferência por estabilidade e valorização da experiência | ||
Geração X ou Yuppie | nascidos entre meados dos anos 60 até o final da década de 70, são pessoas competitivas, que valorizam o esforço individual e priorizam o trabalho | ||
Geração Y ou Millennials | nascidos na década de 80 têm como principais características o desejo constante por novas experiências (inovação), prioridade na qualidade de vida, projetos de curto e médio prazo, a abolição da hierarquia nos relacionamentos, a mobilidade e espaços compartilhados, a independência na administração do próprio tempo e a busca de sentido em todas as atividades | ||
Geração Z, Zapping, ou Nativos Digitais | contempla os jovens nascidos a partir de meados dos anos noventa, período em que a internet passou a intermediar muitas atividades cotidianas; são pessoas críticas, dinâmicas, autodidatas, flexíveis e imediatistas |
Observo que muitos dos aspectos que vêm sendo relatados pelas puérperas se articulam com características predominantes da Geração Y, o que não parece ser uma mera coincidência, já que a maioria delas tem entre 20 e 35 anos. O caldo cultural que embasa essa geração oferece alguns parâmetros nos quais as temáticas das questões pertinentes à maternidade são atualizadas. Vejamos algumas articulações.
A internet é um grande divisor de águas. Os blogs e redes sociais virtuais propiciam e, de certa forma, estimulam a divulgação de relatos autorais das mães compartilhando as próprias experiências, reflexões e pontos de vista. Assim, o movimento de desconstrução de uma faceta única da maternidade tem ganhado força e velocidade. Esses relatos, por sua vez, fomentam a criação de diversos grupos virtuais (muitos dos quais temáticos, como por exemplo depressão pós-parto ou amamentação), e a escolha de qual grupo se filiar está associada à identificação dos valores predominantes em cada grupo (seguindo os exemplos acima, estar em tratamento ou ser adapta à amamentação em livre demanda, respectivamente). Além disso, a partir desses grupos muitos encontros em parques e praças acontecem, sucedendo a formação de verdadeiras redes de apoio.
A facilidade da Geração Y em abandonar relações de poder assimétricas favorece com que as puérperas de nossos dias não se contentem com respostas ou recomendações de especialistas, ou mesmo familiares, quando estas vão contra as crenças do que acreditam ser o melhor para os filhos. A internet facilita o acesso à informação de que há outras de formas de lidar com as dificuldades de criação dos filhos – mas não resolve o dilema de qual caminho seguir, no final essa escolha é sempre individual.
Outra fonte de muito sofrimento para as puérperas surge quando é preciso lidar com o fim da licença-maternidade. Qualidades emergentes na Geração Y como a inovação, o desejo de mobilidade, a facilidade em compartilhar espaços e administrar o próprio turno de trabalho, tem favorecido o surgimento de outras formas de colocação profissional, como o empreendedorismo materno e os espaços de coworking. Tais recursos têm possibilitado que muitas mães continuem (ou iniciem) uma carreira profissional sem que necessariamente precisem abrir mão dos cuidados e convivência com o filho.
A ampliação do olhar e vozes sobre a experiência da maternidade associada ao aumento e criação de redes (aqui incluo os grupos virtuais, espaços de brincar, contra-turno escolar, coworking, entre outros) vêm favorecendo com que muitas mães encontrem acolhimento em um grupo de pertença e atravessem o puerpério de forma menos solitária e assustadora. Mas é preciso lembrar que algumas vezes, o sofrimento pode se apresentar de forma mais intensa e a rede de apoio pode mostrar-se insuficiente para sustentar essa mãe, nessas situações a escuta e atendimento por um profissional especializado fará toda a diferença nessa jornada.
Imagem: Google.
Texto escrito por Carla A. B. Gonçalves Kozesinski.
A Carla é psicóloga (USP), psicanalista, mestre e doutoranda em psicologia clínica (USP). Tem formação em acompanhamento terapêutico (Céu Aberto), aprimoramento multiprofissional em saúde mental (FAPESP) e pós-graduação em psicanálise na perinatalidade e parentalidade (Instituto Gerar). Trabalhou durante nove anos na área da saúde mental e desde 2012 atua na Vara da Infância e Juventude. Foi membro fundadora do grupo Gesto-Rede Psicanalítica (2007-2016) e sócia da Ninguém Cresce Sozinho (2016-2018). Atualmente integra o Laboratório de Saúde Mental e Psicologia Clínica Social do Instituto de Psicologia da USP, atende em seu consultório na cidade de São Paulo e é coordenadora de serviços na Ninguém Cresce Sozinho.